“Oi, tudo bem?”

João Campos Lima
3 min readJan 9, 2025

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Dia desses, em uma boa e reflexiva conversa com um amigo, em que falamos sobre anseios, projetos e a vida em geral, ele relembrou um texto que gostei muito de ter feito. Foi publicado no dia 23 de janeiro de 2017. Eis a íntegra:

“Hoje eu joguei bola de pés descalços com uma meninada, em um campinho próximo à praia. Assim como eles, me senti um garoto com a alma leve de poder jogar futebol de maneira descompromissada. Depois, fui dar um mergulho na água espetacular do nosso litoral. Era final de tarde, o sol se pondo. Os últimos raios refletiam uma juventude que tarda a desaparecer. Uma juventude que, afinal, jamais morrerá, se assim quisermos. Virá a escuridão e o mistério da noite, mas no dia seguinte o sol estará de volta convidando a juventude da alma a bailar durante o dia. Apreciemos! Gratidão pelo dia de hoje”

No mesmo janeiro, mas deste 2025, fui caminhar no final de tarde em busca de uma luz semelhante, um refresco para a alma de um João com menos juventude que aquele (que já não era jovem), pensando que de repente poderia haver algum futebol aleatório em que eu pudesse mergulhar, mas desta vez sem o mergulho literal no mar, posteriormente.

Bom, eu até encontrei uns grupinhos de duas a três pessoas batendo bola, fechados, não aparecendo “um jogo” em que eu pudesse entrar. E, sendo bem sincero, essa história toda apenas me passou pela mente, a intenção mesmo era uma caminhada simples. Essa “não vontade” genuína de jogar bola me deixa reflexivo. Ando sofrendo com dores no púbis quando jogo futebol, isso pode estar contribuindo. Enfim, não quero perder essa paixão, que remete às alegrias nostálgicas da infância.

Quando eu era mais novo, houve uma época em que eu caminhava rotineiramente com a minha mãe. Ela cumprimentava todas as pessoas que cruzavam os nossos caminhos com um “bom dia” entusiasmado. Alguns respondiam, outros não. Porém, mesmo os que a respondiam, faziam de forma comedida.

Diferente dela, nem naquela época e nem agora, não faço essas interações com os anônimos que cruzam o meu caminho. Todavia, tampouco sou adepto das caras sisudas e dos semblantes fechados, muito concentrados nos próprios paces ou conversas miúdas com a cia ao lado, mas sem interação com as demais pessoas. Sou tímido, mas, mesmo assim, eu pesco discretamente um olhar simultâneo. Se vem a recíproca, faço um tradicional e curto cumprimento de cabeça, seguido de um “oi”, “opa”, ou algo parecido.

Justamente pela descrição feita no parágrafo anterior sobre o comportamento das pessoas, os cumprimentos são raros. As pessoas estão focadas demais nas próprias vidas, ou talvez sejam antipáticas mesmo, porque muitas vezes o semblante é fechado. O fato é que pouco ou quase nunca há a troca de olhares, o cumprimento simples. Pois, quase no final de longos 8km de caminhada (pois é, eu também faço registros dos percursos realizados), um senhor com seu cabelo branco e de mãos dadas com a sua senhora, passou por mim e me cumprimentou. Não apenas cumprimentou, como também sorriu. Sabe quando sentimos leveza e simpatia vinda de outra pessoa, numa troca de energia boa? Pois bem, foi isso que aconteceu. Timidamente, sorri e devolvi com um “oi, tudo bem?”, e o trajeto longo ganhou um contorno de frescor. Foi como um raio de sol em um céu nublado.

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João Campos Lima
João Campos Lima

Written by João Campos Lima

Jornalista (UFRGS) e escritor, apaixonado por futebol. Brasileiro, natural de São Jerônimo (RS)

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