Magia de um clássico no fim de tarde do litoral

João Campos Lima
4 min readJan 21, 2025

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A vida pulsa a todo instante, e as reflexões acerca de tudo permeiam a minha mente a todo momento. Recentemente eu escrevi, e já quero agradecer enormemente a todos que repercutiram o meu texto “Oi, tudo bem?” (cada comentário é como um presente que a vida me dá, eu juro), também tecendo comentários acerca da vida — no caso, sobre o poder de um cumprimento afetuoso feito por alguém desconhecido.

Tanto o texto recente quanto este que vos escrevo contou com um mesmo vetor de motivação: para quem leu o texto anterior, vai entender que foi pela conversa com um amigo que relembrou um texto antigo meu, de janeiro de 2017, sobre o prazer de um futebol de final de tarde na beira da praia (no texto “Oi, tudo bem?” eu apresento o texto de 2017 na íntegra).

O desfecho de ambos os textos foram diferentes, como vocês poderão conferir ao longo deste escrito, mas deduzo que temos um fio que une os textos — o de 2017, o “Oi, tudo bem?” e este que escrevo. A escrita é algo único mesmo: as palavras vão vindo e, muitas vezes, toma um rumo um pouco diferente do que estávamos pensando na frase anterior. É hora de evocar o genial Michael Scott para inspirar este escrito com um pouco de humor: “⁠Às vezes eu começo uma frase sem saber como ela vai terminar. Eu só torço para que ela chegue em algum lugar”. Obviamente, estou brincando, felizmente tenho controle do rumo para onde estamos indo neste texto. Prossigamos no próximo parágrafo, prometo que agora indo direto ao ponto.

Em mais um final de tarde de verão no litoral, saí em direção à brisa do mar para uma caminhada. Diferente do trajeto do texto anterior, mas parecido com o de 2017, fui presenteado com uma bola quicando, quase que literalmente: próximo a mim, um homem e dois jovens jogavam uma espécie de futevôlei, com uma pequena rede móvel fixada junto a areia, como se fosse uma rede de tênis. A cena era divertida, mas segui caminhando por uns 500 metros. Porém, aquele jogo me motivou a voltar. Resolvi sentar na areia próximo a eles, propositalmente.

O tempo de contemplação do jogo foi muito importante para que os acontecimentos fossem se descortinando, possibilitando uma boa fruição do momento. Assim, pude notar as técnicas dos atletas da areia e as interações entre eles. Logo percebi que estavam falando em espanhol, e já deduzi que se tratavam de argentinos. Porém, comecei a reparar que uma menina que ia e voltava com o mate na mão estava com uma térmica no braço e com um escudo muito especial: do Nacional Footbal Club, tricolor assim como o meu Grêmio, e que mantém uma relação de amizade entre as torcidas. Quem me conhece, sabe que eu estava num ambiente repleto de símbolos apaixonantes pra mim: futebol, Uruguai, Nacional, mate, fim de tarde, praia e Grêmio (eu estava com uma regata do meu time). É algo que desabrocha como uma poesia.

Então, o homem apontou para mim e me fez o convite para jogar, em duplas. Ao me cumprimentar, perguntou meu nome e, ao escutar João, apontou para o seu filho, Juan, e disse ser o mesmo nome, mas em espanhol. Depois do jogo, entendi que a comunicação fácil se deve ao fato da família ser de Rivera, o que os faz terem familiaridade com o português pela questão da fronteira. Logo, o homem me colocou em dupla com Matías, seu genro e namorado da menina que andava pra lá e pra cá com o mate, e que também torce para o Nacional. Foi definido assim o clássico entre o homem e Juan, torcedores do Peñarol, contra João e Matías, os tricolores. Obviamente, falamos de Luis Suárez, com a veneração que Luisito merece. Citei Matías Arezo, e eles desconheciam a sua trajetória aqui (estou confiante que em 2025 a história dele ganhará capítulos especiais), e Matías (o mesmo nome do centroavante gremista) citou Felipe Carballo, e não gostou muito quando respondi que este não teve uma boa trajetória em Porto Alegre.

Tudo aquilo que me foi fomentado no texto de 2017 e que o meu amigo me relembrou recentemente estava acontecendo diante dos meus olhos, com ingredientes especiais: estava rolando uma espécie de futevôlei que eu nunca tinha participado, sendo a primeira vez que “joguei bola” neste ano, com a mística de Uruguai, mate, Peñarol, Nacional e Grêmio acontecendo em sinergia. Por aproximadamente meia hora, tive o grande deleite de viver esse momento especial e único.

Voltei sorrindo para casa, pensando em contar ao meu amigo sobre a experiência que acabara de acontecer. Ele me respondeu que eu estava numa atmosfera de sonho, e mais uma vez me recomendou a escrever. Pois aí está o texto. Confesso que fico pensando se não fico bobo demais e vibrando em demasia com esse tipo de acontecimento que poderia passar de modo banal para muitas pessoas, possivelmente. Porém, eu gosto de potencializar essas experiências que a vida oferece e colocar um tempero especial. E este eu vivi como se pede um clássico Nacional x Peñarol (com o meu Grêmio ao lado do tricolor). A vida é isso, e é muito boa.

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João Campos Lima
João Campos Lima

Written by João Campos Lima

Jornalista (UFRGS) e escritor, apaixonado por futebol. Brasileiro, natural de São Jerônimo (RS)

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