Carta do João de 1998 — A estreia do Brasil na Copa
“Olá! Eu não sei como está o mundo em 2022. Espero que tudo esteja bem. Em 1998, estou prestes a acompanhar a minha primeira Copa do Mundo. Bom, eu já estava por aqui na Copa de 1994, mas era tão pequeno que não lembro de nada. Agora, em 98, eu ainda sou pequeno, mas já estou entendendo e me apaixonado pelo futebol, e estou pronto para torcer pelo Brasil na Copa. A minha primeira lembrança de um jogo, inclusive, é da final do Campeonato Brasileiro de 1996, mas somente da final: a festa foi tão grande que ainda recordo de comemorar o bicampeonato brasileiro do Grêmio na praia com a família reunida, com comemoração regada a foguetório e buzinaço nas ruas. A empolgação foi tanta que eu, que recém havia completado cinco anos, tomei um gole de vinho escondido do vô Edevy. Será um sinal do meu futuro?
Voltemos a 1998. O Brasil participou da partida de abertura da Copa do Mundo contra a Escócia. Ronaldinho (Ronaldo Nazário) é o grande craque brasileiro, recém eleito melhor do mundo. Surpreso, acompanhei o corte do craque Romário, poucos dias antes da competição. Uma pena, pois adoraria ver o grande nome do tetra formando o ataque com o jovem Ronaldinho. No colégio, uma das atividades simbólicas da Copa foi pintar a luva do goleiro. O Brasil teve como guardião da meta o ídolo Taffarel, campeão do mundo em 1994. Eu já virei fã do goleiro. Apesar da febre do momento ser os Mini Craques da Copa da Coca-Cola, o que eu recebi do meu pai e me fez muito feliz foi um boneco do Taffarel. Com uniforme verde, como o goleiro jogou na França, foi a identificação material necessária para eu me apegar ainda mais ao futebol. Para a estreia, fomos dispensados da aula. Em casa, pude acompanhar a amarelinha no Stade de France. Logo no início, César Sampaio, de cabeça, abriu o placar. Depois, os escoceses empataram, de pênalti. Entretanto, a vitória foi brasileira, com um gol esquisito de Cafu, que chutou, o goleiro defendeu, rebateu no defensor e entrou no gol. 2 a 1.
Em 2022, não sei como será a Copa. Nem sei se será possível que estejas com os olhos brilhando para ver o Brasil na competição como estive em 1998. Afinal, com seis anos de idade e acompanhando pela primeira vez, é inevitável que a emoção seja diferenciada, única. Se eu puder deixar um recado, é o seguinte: sinta a Copa e se conecte com a paixão de torcer pelo país, é o suficiente. E aí, como estão as coisas em 2022? Os brasileiros estão unidos e a camisa e a bandeira representam apenas a torcida dos brasileiros para a Copa?”
Pois é, cá estou, em 2022, tentando responder às perguntas. Será possível deixar de lado tanta coisa e torcer como a criança apaixonada de outros tempos? Evidentemente, a situação é outra. Porém, para não estragar o clima do Mundial e a alegria genuína descrita nos parágrafos anteriores, digo que estarei torcendo com muita expectativa pelo Brasil. Que a Copa traga alegria e paz ao povo brasileiro, principalmente às crianças. Que os jogadores possam povoar o imaginário das crianças como os de 1998 povoaram o meu. Se isso acontecer, tudo fará sentido e terá valido a pena. Pra cima, Brasil!