9/38 Por um chopinho cremoso
Tenho como lema de vida sempre dar chance para a dúvida quando defrontada com a convicção. É verdade que algumas convicções são importantes e necessárias, mas muitas outras não são. Velhas certezas se transformam — a banda que jurávamos ser a melhor coisa do mundo na adolescência talvez não signifique mais tanto, os amigos que pareciam eternos e ficaram de lado, a ideia de ter ou não um filho, a importância dos relacionamentos nas nossas vidas, o entendimento sobre a política, religião, viagens, pratos, se o sábado é de bar ou de aconchego. Enfim, muitas das nossas verdades vão se alterando, ou até mesmo caindo por terra, com o passar do tempo.
Quando adolescente, gostava de ler as colunas de David Coimbra no caderno de Esportes da Zero Hora. Com talento afiado, as histórias do colunista me prendiam, pois os textos abordavam futebol e várias histórias de vida muito divertidas, com episódios do passado, marcados pela perspicácia e o galanteio às mulheres. Era bom o David, com estilo peculiar e sofisticado de escrever. Além disso, há alguns anos, ele era uma presença da TV, e não do rádio, como veio a ser na última década. Mais precisamente na TVCOM. Era integrante do Café TVCOM, programa com tema livre, mas onde ficava evidenciada a rica bagagem literária dos participantes nas agradáveis conversas. E também participava do Bate Bola, domingo à noite, com a repercussão da rodada do futebol no fim de semana.
No verão de 2011, meus pais o encontraram no litoral gaúcho. A mãe contou a ele que o filho queria cursar Jornalismo, e David me desejou força e sorte. O autor de Jô na Estrada autografou para mim o seu livro, que li naquela mesma estação, propícia aos episódios alvissareiros da protagonista Jô — lembro do termo alvissareiro presente em muitos dos textos dele. Também li um livro sobre o clássico Grenal em que David é um dos autores.
Com o tempo, passei a acompanhar muito menos o David. Vieram outros gostos e interesses. Além disso, já não me identificava com muitas opiniões, e o conteúdo dele deixou de me agradar. Fui um dos que achou completamente descabia uma famosa postagem nas redes sociais de 2015, em que ele enfatizava que o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, parecia entender de política, mas não de futebol. O tempo mostrou que ele tinha certa razão.
Um dos últimos textos do David elucida o quanto a dura batalha contra o câncer o torturou nos últimos anos. Ele disse “eu quis morrer” e que “queria não existir mais” devido às dores e fraquezas causadas pela doença. Porém, as melhoras no estado de saúde acenderam-no a mais bela convicção, daquelas que devemos ter como bandeira: a de que a vida é boa. Disse David Coimbra: “Estou de pé, enfim. Meio esfarrapado, mas de pé. Vamos em frente de cabeça erguida. Com um leve tremor ao pensar no futuro. Mas o futuro não é coisa para se pensar. O que existe é o presente e, se o presente pode ser sorvido integralmente, a vida passa a ser boa. E ela é. A vida é boa.”
Entre tantas homenagens feitas após a morte, duas me tocaram em especial: a música que David considerava a mais bonita foi tocada a pedido do seu amigo e colega Luciano Potter, no Timeline: The Long and Winding Road, dos Beatles; e o texto do amigo de longa data, Juremir Machado da Silva (“Os melhores vão na frente”: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/juremir-david-coimbra-os-melhores-vao-na-frente/).
Li o texto de Juremir escutando The Long and Winding Road, o que foi naturalmente emocionante. Aproveitei e tomei uma cerveja enquanto lia. Não era um chopinho cremoso, tão citado nos textos do David. Porém, que neste domingo o Grêmio possa proporcionar um dia de chopinho cremoso aos gremistas. E aos que não são gremistas e que estejam lendo, que o entendimento de que a vida é boa, independente das agruras, também os motive a viver como nas histórias felizes das crônicas de David Coimbra: com um sorriso no rosto e com um chopinho cremoso na mesa entre amigos.
Vila Nova x Grêmio
Depois da goleada por 5 a 0 que garantiu o título da Recopa Gaúcha, o Grêmio vai para o confronto contra o Vila Nova com duas novidades que trazem expectativa e esperança: a volta de Kannemann, e o teste de um novo esquema com três zagueiros.
Porém, nem tudo são flores. O sinal de alerta está muito aceso após os dois últimos empates pela Série B, em que o Tricolor não se apresentou bem. Para domingo, jogará com um atleta improvisado na ala direita, além de não apresentar meias afirmados no elenco. A busca por Lucas Leiva é uma necessidade para um elenco que carece de experiência e qualidade. A montagem mal feita do elenco de 2022 fica evidente a cada lista de relacionados divulgada. Veja a imagem abaixo, que apresenta: jogadores que ficaram marcados pelo rebaixamento e permanecem, jovens em excesso e experientes que não correspondem, desarmonia de características da equipe e na composição por posições, e carência de figuras com personalidade de liderança.
Para encarar o Vila Nova, o Grêmio deverá jogar com a seguinte escalação: Brenno; Geromel, Bruno Alves e Kannemann; Sarará (Elkeson), Villasanti, Bitello, Lucas Silva (Elkeson) e Nicolas; Gabriel Teixeira e Diego Souza.
Se vencer, o Tricolor vai a 15 pontos e entra no G4. A cada texto que passa, a frase a seguir ganha mais importância: a vitória é fundamental. Que Geromel e Kannemann juntos possam dar a estabilidade defensiva e mental ao time. A situação é delicada, mas a recuperação é possível. Aguardemos.
Em 2005
É a pior lembrança da Série B de 2005: pela nona rodada, também jogando em Goiás, o Grêmio sofreu a humilhante derrota de 4 a 0 para a Anapolina. Que seja apenas um registro distante e não se repita algo parecido neste domingo.